Porto Seguro: Além dos Números, Além do Óbvio

Por Partiu Bahia
Os números não mentem. Abre-se o painel, a planilha, o relatório de mercado, e lá está ela, reinando absoluta: Porto Seguro. Destino mais pesquisado do Brasil. Campeã de buscas no Nordeste. Seiscentos milhões de cliques famintos por sol, praia e axé. Diárias médias que sobem e descem, mas que mostram uma demanda insaciável. Hotéis procurados às centenas. É a Meca das férias escolares, o palco oficial da micareta fora de época, a passarela onde o Descobrimento virou souvenir.
É inegável. Porto Seguro pulsa. Atrai multidões como um ímã tropical. Mas, cá entre nós, será que essa pulsação é a única melodia? Será que essa multidão, espremida entre a barraca A e a barraca B, está realmente vendo Porto Seguro? Ou apenas consumindo a versão mais fácil, mais barulhenta, mais… óbvia?
Nós, do Partiu Bahia, olhamos para esses gráficos e sentimos uma coceira. Uma vontade de rasgar o mapa turístico plastificado, de ignorar a seta que aponta para o “complexo de lazer” mais próximo e perguntar: e o resto? Onde está a Porto Seguro que não cabe numa estatística de ocupação hoteleira? Onde está a alma por trás do algoritmo de busca?
Porque ela existe. Ah, se existe. Longe dos holofotes da Passarela do Descobrimento (antiga Passarela do Álcool, vamos chamar pelo nome que ainda ecoa), para além do último acorde do axé que martela nos ouvidos na Praia de Taperapuã, respira uma outra Porto Seguro. Uma Porto Seguro de verdade, feita de gente, de histórias, de sabores que não vêm em embalagem padrão.
Quer um exemplo? Esqueça a muvuca por um dia. Rume para o norte. Atravesse a balsa para Santa Cruz Cabrália e siga um pouco mais até a vila de Santo André. Um reduto de pescadores, com seus 800 moradores, onde o tempo parece obedecer a outro relógio. Lá, procure por Seu Carlindo. Uma lenda local, “filho do vento”, como ele mesmo diz. Um homem que aprendeu a navegar antes de andar e que te leva, a bordo da sua “Amazônas”, para um mundo que poucos turistas dos gráficos sequer imaginam existir.
O destino? Coroa Alta, Coroa do Araripe. Bancos de areia que emergem na maré baixa, cercados por corais. Piscinas naturais de água morna e transparente. Silêncio. Aquele silêncio que só o mar aberto oferece. Mergulhe com snorkel, veja os peixes seguirem suas vidas alheios à sua presença. Reme um stand-up paddle na imensidão azul. Ou simplesmente boie, deixe a água salgada te limpar da poeira do asfalto e das preocupações. E ouça as histórias de Carlindo. Sobre o mar, sobre a vida, sobre yoga, sobre música. Uma experiência que não tem preço de tabela, tem valor.
Quer outra dica? Fuja dos restaurantes “pega-turista” da orla. Vá para o centro, mas não para a muvuca óbvia. Procure o Gallo’s. Um lugar debruçado sobre o Rio Buranhém, de frente para o mangue, onde a brisa sopra constante e os barcos dos pescadores balançam devagar. A “tarifa” – onde o pescado do dia é descarregado – fica a poucos metros. Não se espante se um pescador passar pela sua mesa carregando o peixe que, minutos depois, estará no seu prato. Gallo, o dono mineiro com alma baiana e tempero português, serve um espeto de frutos do mar que te faz questionar todas as suas certezas gastronômicas. Aos sábados, um chorinho ou samba embala o pôr do sol sobre o rio. É ali, entre os moradores locais, comendo um peixe fresquíssimo e ouvindo boa música, que você sente um pedaço da verdadeira Porto Seguro.
E tem mais. Tem Arraial d’Ajuda além da Rua do Mucugê, com suas praias mais tranquilas ao sul. Tem Trancoso para além do Quadrado fotogênico, nas trilhas que levam a praias quase desertas. Tem a joia rústica de Caraíva, onde carros não entram e a vida segue no ritmo da maré e da luz de gerador (ou da lua). Tem a Reserva da Jaqueira, para um contato profundo e respeitoso com a cultura indígena Pataxó.
Não estamos dizendo para ignorar a história na Cidade Alta ou deixar de curtir uma boa praia. Mas estamos te convocando a olhar por baixo da superfície. A questionar o roteiro pronto. A entender que a popularidade massiva de Porto Seguro, aquela que os gráficos mostram, é apenas a camada mais externa. A verdadeira Bahia, a essência que buscamos, muitas vezes está escondida na simplicidade de uma vila de pescadores, no sabor de um prato feito sem pressa, na conversa com quem vive ali o ano inteiro.
Então, sim, Porto Seguro vai continuar bombando nas pesquisas. Mas a pergunta que o Partiu Bahia te faz é: você quer ser só mais um número nessa estatística ou quer descobrir a Porto Seguro que os números não contam? A escolha, como sempre, é sua.
Partiu?
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